Palavra & Território: Escrita alfabética e a colonização portuguesa da Mata Atlântica

Abstract

Juntamente com as armas de fogo, os animais domésticos, os micróbios e o aparato estatal, o alfabeto integrou o dispositivo biotécnico que os europeus renascentistas usaram para conquistar, espoliar e governar os povos ameríndios da Mata Atlântica, a partir do século XVI. Como em outras partes do Novo Mundo, a escrita foi fundamental para a apropriação retalhada dos ecossistemas nativos, incluindo suas populações humanas (privatização fundiária, escravização etc.). Não obstante, o alfabetismo acabou se adaptando aos territórios americanos. Uma das expressões mais poderosas dessa adaptação foi o processo por meio do qual o alfabeto, a princípio uma técnica de subjugação, acabou se tornando um instrumento de resistência ameríndia ao controle colonial. Alfabetizados nas missões jesuíticas, os nativos adquiriam a competência linguística necessária ao questionamento dos processos que simbolicamente viabilizavam a apropriação e transformação de seu território. Até agora, o exemplo mais bem estudado desse tipo de resistência “de dentro para fora” do sistema é a rebelião Guarani que lutou contra a implementação do Tratado de Madrid, na década de 1750.

Authors and Affiliations

Diogo de Carvalho Cabral| Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em População, Território e Estatísticas Públicas (Escola Nacional de Ciências Estatísticas/IBGE), Brasil

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  • EP ID EP15436
  • DOI 10.21664/2238-8869.2015v4i1.p207-223
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How To Cite

Diogo de Carvalho Cabral (2015). Palavra & Território: Escrita alfabética e a colonização portuguesa da Mata Atlântica. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, 4(1), 207-223. https://europub.co.uk/articles/-A-15436